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O pensamento de Paulo e a soberania de Deus

A palavra “soberania” não aparece no texto sagrado, mas a ideia está explicita em toda a Bíblia, como na carta aos Romanos 11:33-36:

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!

Nas saudações finais desta mesma carta Paulo reporta ao evangelho de Jesus Cristo como “a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto” (Rm 16:25) e demonstra o que Deus, com base nos seus decretos, pensou sobre a salvação da humanidade na eternidade passada e assim determinou as ações que no devido tempo deveriam acontecer.

Os resultados da salvação do pecador estão inseridos no “decreto” de Deus que antecipadamente previu que os salvos deveriam ser conforme “à imagem de seu Filho” e isto por meio de um plano estabelecido que envolve conhecimento, predestinação, chamado, justificação e a glorificação (Rm 8:28-30).

Quando Paulo de reporta aos “tempos eternos” está trazendo a memória que no princípio, nada havia ou existia além de Deus para influenciá-lo quando Ele decretou, e o fez livremente e voluntariamente, ou seja, soberanamente estabeleceu sua vontade.

Pelo contrário, repetimos, os decretos de Deus são baseados em Seu sábio e santo conselho. Sendo sumamente sábio, conhecendo o fim e o princípio, sabendo que o pecado viria (já que Ele havia resolvido permitir sua vinda), sabendo qual seria a natureza do pecado e como Ele teria que lidar com ele se fosse salvar alguém, Ele baseou Seus planos em todo Seu conhecimento e compreensão.

Sendo perfeitamente santo, e incapaz de parcialidade ou injustiça, Ele fez Seus planos de acordo com o que é absolutamente certo. Ele pode salvar o pecador apenas se, ao fazê-lo, puder permanecer absolutamente justo (Rm 3:25). É baseado em Sua sabedoria e santidade, portanto, que Ele fez os decretos, tanto os eficazes como os permissivos (1)

O entendimento é que na sua soberania Deus “que desde tempos eternos” Seu eterno propósito, assim como planejado, à medida que a história se desenvolve eles vão acontecendo. Razão pela qual quando Paulo aborda o plano da redenção, faze-o informando que faz parte do “evangelho de Deus” (Rm 1:1; 15:16) que é o “mistério que desde tempos eternos esteve oculto” (Rm 16:25), entretanto, “o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras” (Rm 1:2).

Quando Paulo apresenta seu apostolado e o propósito do mesmo, ele demonstra a soberania da Trindade e diz “que eu seja ministro de Jesus Cristo entre os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo” (Rm 15:16), e toda a vontade de Deus está inserida no evangelho e em momento algum abre mão de nenhuma das prerrogativas dos seus atributos e dons para salvar os pecadores.

Paulo faz duas citações de que o evangelho é Deus (Rm 1:1) e que Jesus Cristo ressurreto é a expressão maior do “evangelho de Deus”. O enfoque é que Deus soberanamente apresenta por meio do evangelho o poder que pode operar a salvação no pecador.

Na doxologia de Paulo inicialmente descrita, arroga estar diante de um Deus que é insondável em sabedoria quando executa os seus juízos e inescrutável nos caminhos da sua ciência, informando que Deus de maneira gloriosa e eterna tem toda a criação sob seu controle absoluto: “Porque dele e por ele, e para ele são todas as coisas”. Dentre “todas as coisas” está a “justificação do pecador” que lhe possibilita reconciliar-se com Deus.

Somente podemos tomar conhecimento da soberania de Deus, se conhecermos a Deus.

Deus é o próprio ser e, portanto, além de todas as coisas existentes. Situa-se além do conhecimento porque o conhecimento pressupõe divisão entre sujeito e objeto. […[ Ele reúnem-se todos os poderes de ser. […] É o princípio universal de todas as coisas particulares, de tudo o que possui ser. Paul Tillich (2)

E uma das maneiras de se conhecer a Deus, é conhecer o que Bíblia descreve acerca Dele. Neste sentido a teologia sistemática é um instrumento valioso. Pois é necessário examinar o assunto diretamente e plenamente a luz da Escrituras, e, é preciso colocar em ordem tudo o que Bíblia diz em um sistema organizado.

E quanto analisamos e estudamos sobre a natureza de Deus, precisamos fazer pelo menos sobre duas perspectivas que são essência de Deus e atributos de Deus. Quanto a essência devemos ter entendimento doutrinal no que diz respeito a espiritualidade, a auto existência, imensidão e eternidade de Deus; por outro lado, os atributos devem ser pontuados, pelo menos em duas etapas, os absolutos e relativos.

É imperioso saber que quando a Bíblia trata da natureza de Deus estamos diante de uma Unidade e Trindade, mesmo o termo Trindade não estar cunhado nas Escrituras Sagradas, entretanto, a ideia está implícita e explicita ao longo dos registros. O Novo Testamento, escrito após o evento histórico da encarnação do Verbo, as narrativas são constantes com Pai, Jesus Cristo e o Espirito Santo (Rm 15:16). As três pessoas em uma mesma essência, não havendo diferença de glória, poder, ou extensão da existência, mas simplesmente de ordem.

  1. Palestras em Teologia Sistemática; Henry Clarence Thiessem; IBR; 1994; P. 98
  2. História do Pensamento Cristão; Paul Tillich; ASTE, 2007; p. 76

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